terça-feira, 12 de maio de 2009

A vela na minha vida


Habitualmente pessoas conhecidas questionam-me sobre a opção tomada em ter um veleiro.
«…Porquê depender do vento, se um barco a motor é mais prático?» «… Um barco à vela dá tanto trabalho a montar os cabos e as velas, um barco a motor é só dar à chave para trabalhar!» «… E depois o barco anda sempre inclinado, um barco a motor é mais confortável!!...» «…andas a fazer rumos em diagonal, num barco a motor vais em linha recta para onde queres…»
São precisamente estas razões que me levaram a preferir um veleiro do que uma simples lancha a motor. Um barco a motor leva-nos rapidamente a qualquer lado, mas isso torna-se tão monótono e não passa de um meio de transporte como qualquer outro, velejar não é um mero meio de transporte sobre o mar. Velejar é uma aventura, nada se repete num passeio ou numa regata, é totalmente imprevisível.
Na vela a velocidade do barco, alem de depender do vento, depende dos seus tripulantes e do seu nível de conhecimentos, dos seus instintos, da percepção do meio natural.
Velejar pode ser simples, se aprender apenas o básico, como pode ser complexo, se quiser ser um verdadeiro “Lobo-do-mar” em navegação oceânica e aplicar conhecimentos vectoriais da física, hidrodinâmica, aerodinâmica, meteorologia, electrónica, mecânica, segurança, navegação ou até de costura.
Velejar é uma arte, é emoção, sonho…, realidade, lazer, motivação… ao velejar desfruto do prazer que tudo isso me proporciona, da natureza, do bem-estar, da prática desportiva saudável. Velejar é uma prática ambiental perfeita, uma simbiose entre o vento, o mar e o Homem; disciplinadora de atitudes ecológicas, de bons comportamentos sociais. A vela mostra-me, por vezes, uma perspectiva diferente das coisas e abre novas soluções para as dificuldades do dia-a-dia que a vida nos apresenta.
Cada experiencia na vela pode ser utilizada no nosso quotidiano, quer a nível profissional, quer a nível pessoal. A vela pode motivar-nos pessoalmente ou em trabalhos de equipa, porque velejar é atingir objectivos, é espírito de equipa, é traçar rumos, é alcançar metas ou alvos, é ultrapassar obstáculos. A vida é também isto mesmo! Se falhar os objectivos tanto na vida, como na vela, tenho que aprender com os erros e pensar o que fazer diferente ou melhor e tentar novamente. Quando o sucesso dos objectivos é alcançado numa segunda tentativa tem muito mais valor. É a vida, é a vela!
Velejar proporciona-me bem-estar físico e emocional e por conseguinte aumenta a qualidade de vida, podendo até modificar hábitos, como deixar de fumar, melhorar a alimentação, dormir melhor ou encarar as coisas de modo mais optimista, mais apaixonante. É por tudo isto que tenho a paixão pela vela.
A vela é uma actividade social e desportiva para todas as idades, para todas as pessoas, a vela pode não ser uma actividade de elites se for convenientemente divulgada e apoiada pelo Estado.
No Estado Novo a vela era impulsionada e divulgada pelos Centros de Vela da Mocidade Portuguesa, a grande escola da arte de velejar para jovens de todas as classes sociais. Porque não implementar, subtraindo as ideologias, uma organização semelhante para divulgar a tradição e a arte de velejar aos jovens, contribuindo assim para evitar comportamentos desviantes que hoje são tão vulgares na juventude da nossa sociedade?
No Passado fomos um país de grandes navegadores e precursores da navegação à vela no Mundo. Porque deixar perder-se a tradição e os conhecimentos da arte que dominávamos como ninguém e da qual fomos pioneiros no seu desenvolvimento?!

1 comentário:

almagrande disse...

Caro Baluarte, belo texto. Qualquer pessoa que faça vela identifica-se com as suas palavras.