Esta semana a velejar no Rio Sado tive um encontro imediato com a família de Roazes, "Tursiops Truncatus", residente no Estuário e Baía do Sado, apesar da qualidade das imagens não ser a melhor arrisquei publicar e dar a conhecer os famosos Golfinhos do Sado. É de salientar, que se consegue observar o Benjamim desta comunidade de Mamíferos Aquáticos, de nome "Bocage"
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
quinta-feira, 21 de agosto de 2008
Galeão do Sado - Embarcação de Recreio
Como notou Henrique Cabeçadas, sendo o galeão uma embarcação andeja e bolineira, de linhas finas, com boas entradas e saídas de água, compreende- se a cobiça de alguns estrangeiros para a sua transformação em embarcações de recreio, dando-lhe assim uma nova utilização.
Hoje, a maioria dos galeões encontra -se em águas nacionais em boas mãos, que de forma decidida, se entregam à conservação deste nosso valioso património náutico. Esse exemplo tem sido dado por algumas autarquias, principalmente as do Sado e também a Câmara Municipal de Cascais, actual proprietária do “Estou Para Ver”.
Pelo que se estima é bem pequena a família dos Galeões do sal.
Uma Família de Barcos:
~ Riquitum
~ Amendoeira
~ Estou Para Ver
~ Bom Dia
~ Pego do Altar
~ Nova Alcacer
~ Fundação de Portugal
~ Zé Mário
~ Pinto Luísa
~ Vale de Moura
~ Odemirense
~ Bicha de Alcácer
~ Albarquel
~ Santiago
~ O Abandonado
Apontamentos sobre esta pequena Família
Segundo Pedro Vasconcelos Proprietário do “Novo Alcácer”
Amendoeira
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Câmara de Alcácer
Local de Navegação: Sado
Albarquel
Bandeira: Francesa
Propriedade: Francesa
Local de Navegação: França
Bicha de Alcácer
Bandeira: Francesa
Propriedade: Francesa
Local de Navegação: França
Bom Dia
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Holandesa
Local de Navegação: Algarve
Estou Para Ver
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Câmara de Cascais
Local de Navegação: Cascais
Fundação de Portugal
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Portuguesa
Local de Navegação: Sado
Nova Alcácer
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Portuguesa
Local de Navegação: Tejo
Odemirense
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Alemã
Local de Navegação: Madeira
O Abandonado
Bandeira: Francesa
Propriedade: Francesa
Local de Navegação: França
Pego do Altar
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: João Barbas de Oliveira
Local de Navegação: Sado
Pinto Luísa
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: C. M. Alcárcer do Sal
Local de Navegação: Sado
Riquitum
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: João Barbas de Oliveira L
Local de Navegação: Sado
Santiago
Bandeira: Inglesa
Propriedade: Inglesa
Local de Navegação: Inglaterra
Vale de Moura
Bandeira: Alemã
Propriedade: Alemã
Local de Navegação: França
Zé Mário
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Reserva Nat. Estuário Sado
Local de Navegação: Sado
Comprimento 16,90 m
Boca 4,75 m
Pontal 1,14 m
Ton. bruta arq 19,90 Ton.
Capacidade 35,00 moios (um moio = 850 Kg de sal)
“(…)Construído em 1944 no estaleiro Chaves & Chaves, Lda., em Setúbal, para Possidónio Tavares, foilhe atribuído inicialmente o nome de “Angelina de Jesus” e registado em 1945(…). Em 1963 foi vendido a José Manuel da Cruz passando então a denominar-se “Zé Mário”, designação que mantém quando, em 1971, é vendido à Unisado – União Salineira do Sado, Lda. E, posteriormente, em 1982, à Reserva Natural do Estuário do Sado. Navegou até 1980/81.(…)” “(…) Em 1983 foram iniciados os trabalhos de recuperação pelo construtor naval José Rosa Adanjo, já falecido. O casco necessitou apenas de substituição do forro do convés, braçolas e roda de proa, pelo que não se tratou de uma reconstrução mas tão somente de uma reparação. Pelo contrário, o aparelho (velas, mastro e respectivos cabos) foi feito inteiramente de novo, seguindo-se rigorosamente as indicações dos antigos mestres de Galeões.
“Em 1977, um grupo de jovens do então chamado Centro Juvenil de Setúbal da Liga para a Protecção da Natureza, lança a ideia da recuperação de um Galeão, ideia que veio a ter eco na reserva Natural do Estuário do Sado que mais tarde a concretizou (…).”
“(…)Procedeu-se a um profundo trabalho de recuperação da embarcação nos estaleiros navais de Sarilhos Pequenos, da firma Jaime Ferreira da Costa & Irmão, Lda.(…)
“(…)As velas e restante aparelho foram executados pelos veleiros Brás da Silva e José Silva, os últimos especialistas de velas para embarcações tradicionais.”
Embarcações Tradicinais do Sado Zé Mário - Um Galeão do Sal de Setúbal - Reserva Natural do Estuário do Sado - 2ª Edição
Riquitum e Pêgo do Altar
Recuperados, navegam nas águas do Sado e acolhem, ao longo do ano, sobretudo as escolas, que os procuram no âmbito da educação ambiental.
Contou-nos João Barbas de Oliveira: “Quando era miúdo, anos sessenta, lembro-me bem de os ver, na doca de Setúbal de onde partimos, às dezenas, amarrados de braço dado.
Temos de agradecer a muitos estrangeiros o terem tirado alguns galeões da lama. O “Riquitum” é um bom exemplo: desenterrado e recuperado por um alemão que, por sua vez, o adquiriu de um holandês. Isso foi possível porque a parte estrutural estava toda enterrada, o que o conservou.
” Homem excepcional, com uma dedicação ao barco espantosa, o alemão e a companheira passaram a viver no barco com os seus dois filhos que aí nasceram. Ela fazia casacos de cabedal que vendia e assim sobreviviam e se dedicavam ao barco que, aos poucos, ia sendo salvo e recuperado... sempre que havia dinheiro. Mas, os filhos cresceram e outras necessidades se impuseram...acabaram por vendê-lo.
“Quando o comprámos, em 1980, estava encalhado na Herdade do Pinheiro. Sempre que a maré subia tinha água no salão. Estava num estado muito avançado de degradação. Com recurso ao motor de uma velha carrinha, conseguimos levá-lo para o estaleiro do Manuel Viana, que já não existe, e lá foi recuperado.
E, continuou João Barbas de Oliveira:
-”Vi o “Pêgo do Altar” pela primeira vez já ele tinha saído de Setúbal. Foi em Vila Real de St.º António e pertencia a um inglês.
Entabulei conversa sobre o barco e tive a imediata convicção que poderia ser vendido.
Levaram-no entretanto para as Canárias, e a seguir para Maiorca, onde o fomos ver. Em 1993, um ano depois, comprámos o barco que já estava meio abandonado nas Canárias. O projecto de negócio, um pouco louco, de trazer lagostas vivas de Cabo Verde, fracassou.
Ainda navegava, tinha um motor de 30 cavalos e, numa viagem bastante atribulada, com mau tempo e três pessoas a bordo, trouxemo-lo das Canárias para Lagos.
É difícil manobrá-lo. O pano é muito grande, rizar não é confortável e abate bastante. O “Estou Para Ver” já não, porque tem uma sobrequilha. Este tem apenas uma quilha corrida, 40 cm à popa que morre para os 30 cm à proa. Mas os galeões são, dos barcos tradicionais, os mais bolineiros. Julgamos nós que isso se deve ao facto do Sado correr de Sul para Norte. Foram concebidos para bolinar. Não fora assim e cada transporte de sal demoraria uma eternidade. Este barco já levou uma obra grande. Tivemos que lhe colocar uma quilha e uma sobrequilha novas. Quanto a custos, uma loucura.”
“Quanto à recuperação deste e doutros barcos tradicionais devo mencionar que ela se deve ao excepcional empenho e devoção de homens como o Eng.º Henrique Cabeçadas”.
O Amendoeira
Construído em Setúbal em 1925 tem as seguintes características:
Classe: 3587SE;
Tipo: 5
Zona de navegação: águas abrigadas;
Comprimento: 18,84
Boca: 5,38 m
Pontal: 1,40m
Tonelagem: 31,85
Lotação: 50 pessoas
Material: Casco de madeira
Cor: predomina o preto
Construído em Setúbal, na Praia da Saúde, pelo Sr. Artur dos Santos, o seu primeiro proprietário foi a firma “ Manuel Francisco Afonso Herdeiros, Lda” e o barco operava como embarcação de tráfego local.
Foi adquirido pela “Unisado – União Salineira do Sado, Ldª” em 1972, tendo sido vendido em Julho de 1984 ao belga Sr. Henri Frank Van Uffelen Elisabeth, e sujeito a obras de reconversão, de acordo com os objectivos do seu proprietário.
Em 1995, o “Amendoeira” foi sujeito a trabalhos de retirada de alguns elementos descaracterizadores e de pintura.
Desenvolveu-se a ideia de se estabelecer um protocolo de utilização da embarcação entre o seu proprietário e a Câmara Municipal de Alcácer do Sal e, em 1997, é celebrado contrato de comodato, que autoriza a autarquia a utilizar o galeão como embarcação de recreio, obrigando-se a proceder a reparações, alterações e benfeitorias no mesmo.
Em 2004, a Câmara Municipal de Alcácer do Sal procede à aquisição da embarcação.
Está a ser recuperado. E em breve, vêlo-emos, de novo, a navegar.
Pinto Luísa
Construído em Setúbal em 1946, tem as seguintes características:
Classe: 22008SE
Tipo: C 1
Zona de navegação: costeira
Comprimento: 19,30m
Boca: 5,77m
Pontal: 1,75m
Tonelagem: 43,08
Lotação: 25 pessoas
Casco de madeira de cor predominantemente branca.
O nome deste galeão teve origem no primeiro proprietário de nome “Pinto”, que tinha uma filha de nome “Luísa”.
Foi adquirido pelo Sr. Carlos Bicha, de Alcácer do Sal, em 1947, com a finalidade de transportar vários produtos da região, nomeadamente o sal.
Em 1985, Venâncio Bicha, neto do anterior proprietário, converte o galeão em embarcação de lazer, registando-o como barco de recreio.
Em 2003, a Câmara Municipal de Alcácer do Sal adquire o “Pinto Luísa”.
Nova Alcácer
(…) foi construído pelo mestre Carlos Ministro, em Alcácer do Sal.
Comprado em 1979 a Venâncio Bicha por Albert Joseph Coumans, o holandês mais conhecido por Bertus, na Zona do Gaio do Rosário.
Primeiro foi recuperado nos estaleiros Viana e, mais tarde, veio para o rio Tejo para os estaleiros Lopes. Durante mais de vinte anos prestou bons serviços de lazer…
É hoje propriedade do escritor Pedro Vasconcelos
Excerto do texto Projecto Mar
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
O Galeão do Sado - A Rota do Sal
O Galeão “Reconverte-se” ao Sal
“Cerca de 1920, aparece em Setúbal o galeão a vapor na arte do cerco americano e os anteriores galeões, a remos e vela, são convertidos para carga, sobretudo fluvial, depois de modificado o convés e a armação. O casco não sofreu alteração e, com a sua forma alongada de entradas e saídas de águas finas, deu embarcações andejas e bolineiras muito diferentes dos iates e laitaus.
A armação foi modificada passando a área da enorme vela bastarda a ser repartida por uma vela carangueja e um estai, desaparecendo a pesada e longa verga do bastardo. Tornou-se, assim, possível reduzir a tripulação a dois homens ou, no limite, a um casal. Ficou com a armação de cuter, com um mastro vertical, sem gurupez, amurando a vela de estai na roda de proa. A vela grande tem duas ou três ordens de rizes e ferra para a carangueja arreada no convés. O casco era de popa ogivada com leme por fora e a proa quase vertical. O convés era corrido, com duas grandes escotilhas para a carga pela ré do mastro, uma mais pequena para vante do mastro, e dois albois, um para o rancho da proa e outro para a câmara da popa.
“Os primeiros galeões de carga resultaram, assim, da reconversão dos galeões da pesca, inicialmente os mais pequenos, menos rentáveis na pesca. Posteriormente e até 1954, construíram-se muitos galeões de casco semelhante aos primitivos, mas maiores.”
Comprimento fora a fora (comp. total) 13 a 18 metros
Boca (largura máxima) 3,7 a 4,3 metros
Pontal (altura do casco) 0,9 a 1,2 metros
Excerto do texto de Henrique Cabeçadas “Embarcações Tradicionais Sado”
A Rota do Sal
Mestre Ricardo Afonso Santiago conta hoje 70 anos de idade e andou no sal, a bordo do “Estou para Ver”.
Contou-nos que, durante toda a década de 60, a actividade dos galeões no transporte do sal era ainda necessária e rentável. Dela dependia o abastecimento directo, em pleno rio, dos navios da nossa frota bacalhoeira. Cada Galeão podia transportar entre 50 a 70 toneladas. Lembra-se de dias em que o abastecimento à frota do bacalhau chegou a atingir cerca de 50 mil toneladas de sal.
Rio Acima…
Sado acima até Alcácer, carregar os galeões de sal e fazê-los regressar a Setúbal, foi actividade que animou o rio até ao fim dos anos sessenta.
O rio não é fácil. É necessário conhecê-lo bem para não comprometer a viagem. Evitar, por exemplo, o “rabo de peixe”, local tão baixo que não permite a passagem. Três horas para lá, mais uma para carregar e outras três para o regresso era o tempo que em média se gastava, aproveitando marés e com o vento de feição. Com vento Norte, o regresso à vela era bem difícil já que, em alguns troços, o rio corre para Norte e Noroeste. Outras tantas dificuldades se levantavam quando havia quebras de vento. Quando tal acontecia, uma barquinha à proa e outra à popa, movidas a remos, puxavam o galeão rio abaixo ou rio acima.
Cada galeão transportava entre 50 a 70 toneladas de sal. Através de duas grandes aberturas na coberta, os carregadores iam despejando os 25 quilos que transportavam em cada canasta até o encher. Carregadores contratados à jorna, em competição e regata permanente para serem os primeiros a chegar e a carregar, pois dessa pressa dependia a retribuição. Trabalhadores que não faziam parte da tripulação pois o galeão do sal bastava-se com duas pessoas a governá-lo, tarefa frequentemente desempenhada por casais. E assim foi até a estrada substituir definitivamente o rio.
Sado acima até Alcácer, carregar os galeões de sal e fazê-los regressar a Setúbal, foi actividade que animou o rio até ao fim dos anos sessenta.
O rio não é fácil. É necessário conhecê-lo bem para não comprometer a viagem. Evitar, por exemplo, o “rabo de peixe”, local tão baixo que não permite a passagem. Três horas para lá, mais uma para carregar e outras três para o regresso era o tempo que em média se gastava, aproveitando marés e com o vento de feição. Com vento Norte, o regresso à vela era bem difícil já que, em alguns troços, o rio corre para Norte e Noroeste. Outras tantas dificuldades se levantavam quando havia quebras de vento. Quando tal acontecia, uma barquinha à proa e outra à popa, movidas a remos, puxavam o galeão rio abaixo ou rio acima.
Cada galeão transportava entre 50 a 70 toneladas de sal. Através de duas grandes aberturas na coberta, os carregadores iam despejando os 25 quilos que transportavam em cada canasta até o encher. Carregadores contratados à jorna, em competição e regata permanente para serem os primeiros a chegar e a carregar, pois dessa pressa dependia a retribuição. Trabalhadores que não faziam parte da tripulação pois o galeão do sal bastava-se com duas pessoas a governá-lo, tarefa frequentemente desempenhada por casais. E assim foi até a estrada substituir definitivamente o rio.
Texto de Carlos S. Costa
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
O Galeão do Sado - As origens
O Cerco do Galeão
Nasceram para ser pesqueiros. Devem provavelmente o seu nome à arte de pesca utilizada, em especial para o cerco da sardinha – o cerco do galeão.
Segundo A.A. Baldaque da Silva:
“(. . .) O systema de pesca por meio da rede de galeão foi importado da Galiza para Isla Cristina, povoação hespanhola fronteira a Villa Real de Santo António, e depois adoptado pelos pescadores d´esta villa e de outros portos do continente do reino, não se tendo no entanto generalisado muito entre nós, por ser muito despendioso.
(…) usa-se em toda a costa do Algarve e na costa occi- Evolução dos galeões dental do cabo de S. Vicente ao da Roca, destinando-se à pesca da sardinha. Para o norte d’este ultimo cabo, até ao Minho, não se emprega este systema de pesca em nenhum ponto da costa do reino.
(…) lança-se de dia e nas noites escuras com agua parada, ou mesmo havendo corrente, costumando as embarcações sair para o mar das três ou seis horas da manhã, ficando algumas vezes fora, quando o tempo é bom para a pesca de noite, especialmente nos escuros da lua, sendo então que fazem maiores lanços de sardinha.”
O Estado Actual das Pescas em Portugal, 1891
Remos e Vela
O Galeão, um veleiro robusto, de formas finas e alongadas, movido, na falta de vento e na acção de cerco, por 34 remadores (sete remos em cada um dos bordos), armava uma grande vela triangular latina.
A Companha
Na actividade piscatória fazia-se acompanhar por outras embarcações auxiliares como buques, barcas e enviadas.
A bordo, uma companha de mais de quarenta homens com tarefas bem especializadas e definidas.
Embarcações e Artes de Pesca – Lisboa 1981 – publicação da Lisnave
Nasceram para ser pesqueiros. Devem provavelmente o seu nome à arte de pesca utilizada, em especial para o cerco da sardinha – o cerco do galeão.
Segundo A.A. Baldaque da Silva:
“(. . .) O systema de pesca por meio da rede de galeão foi importado da Galiza para Isla Cristina, povoação hespanhola fronteira a Villa Real de Santo António, e depois adoptado pelos pescadores d´esta villa e de outros portos do continente do reino, não se tendo no entanto generalisado muito entre nós, por ser muito despendioso.
(…) usa-se em toda a costa do Algarve e na costa occi- Evolução dos galeões dental do cabo de S. Vicente ao da Roca, destinando-se à pesca da sardinha. Para o norte d’este ultimo cabo, até ao Minho, não se emprega este systema de pesca em nenhum ponto da costa do reino.
(…) lança-se de dia e nas noites escuras com agua parada, ou mesmo havendo corrente, costumando as embarcações sair para o mar das três ou seis horas da manhã, ficando algumas vezes fora, quando o tempo é bom para a pesca de noite, especialmente nos escuros da lua, sendo então que fazem maiores lanços de sardinha.”
O Estado Actual das Pescas em Portugal, 1891
Remos e Vela
O Galeão, um veleiro robusto, de formas finas e alongadas, movido, na falta de vento e na acção de cerco, por 34 remadores (sete remos em cada um dos bordos), armava uma grande vela triangular latina.
A Companha
Na actividade piscatória fazia-se acompanhar por outras embarcações auxiliares como buques, barcas e enviadas.
A bordo, uma companha de mais de quarenta homens com tarefas bem especializadas e definidas.
Embarcações e Artes de Pesca – Lisboa 1981 – publicação da Lisnave
De acordo com os esclarecimentos de D. Manuel de Castello Branco:
- “Um mestre de pesca (mestre do mar da empresa armadora, responsável pelo andamento das suas actividades piscatórias);
Um mestre de leme (encarregado do governo do galeão, quando da navegação e aquando do lançamento da rede ao mar);
Um pedreiro (prático da costa encarregado de elucidar o mestre de pesca quanto à natureza do fundo: se é limpo e permite livre prática da faina da pesca ou se tem pegadilhos ou ratos de pedra que possam danificar as redes, a ponto de ser desaconselhável o seu lançamento);
Um proeiro (encarregado das luzes de bordo e do serviço de vigia, pronto a dar conta de qualquer perigo que se lhe depare pela proa e pronto a assinalar a presença de cardumes); Dois encarregados das abertas, responsáveis pelo acondicionamento da rede, para que a faina da pesca decorra nas devidas condições e na melhor ordem sem quaisquer embaraços;
Trinta e quatro homens para accionar os remos, para alar a rede, para copejar o peixe e para, sob a direcção dos encarregados das abertas, “rodar a faena”;
Quatro moços (aprendizes encarregados de serviços auxiliares, compatíveis com a suas idades)”.
Embarcações e Artes de Pesca – Lisboa 1981 – publicação da Lisnave
Um Lance de Pesca
“A faina do lançamento começa pela sondagem da profundidade e natureza do fundo, e em seguida deita-se a rede por bombordo, principiando por uma das pontas, a qual fica atracada e segura a um dos buques, que larga ferro no ponto onde o lançamento começou, sendo a rede a partir d´este ponto atirada ao mar de modo que não tome volta nem se enrasque, descrevendo o circuito que o galeão vae percorrendo a remos, convenientemente dirigido pelo arraes até chegar ao ponto de partida, e ficando portanto, depois d´esta manobra, a rede mergulhada verticalmente dentro de agua, desde a superfície até ao fundo, contornando e limitando o espaço onde estava o cardume.
Realizado isto, vão três buques tomar posição junto da copejada, aguentando-a um a meio e um em cada extremo, e o galeão passa o retador ao buque que primeiramente havia fundeado. O retador é uma espia que segura o galeão durante a faina que se vae seguir, á medida que elle se desloca atravessado á corrente.
Tomadas esta precauções começam de bordo do galeão a metter as duas pontas das bandas dentro, e vão solecando a espia pouco a pouco, não só para aguentarem a embarcação, como também para mais facilmente irem mettendo as bandas dentro, caindo para o lado dos três buques que amparam a copejada.
A fim de evitarem, quanto possível, a saída do peixe pelo vão que se forma entre as bandas por baixo do galeão, empregam duas varas grossas, tendo cada uma um fio grosso no extremo com pequenas bandeirolas brancas ao longo e um prumo na parte inferior, que mergulham verticalmente na agua, dando-lhes movimentos de vae-vem para afugentar o peixe d´este lado.
Assim que têem conseguido embarcar as bandas e tomar acopejada, onde está accumulado todo o peixe, formam as barcas cerco em volta d´ella, e aliviando-a á borda tiram a sardinha de dentro com as redes de enchelevar, ou mesmo com canastras, e distribuem-na pelas embarcações destinadas ao seu transporte para o porto; quando o peso do peixe não é demasiado, mettem também a copejada dentro do galeão, e daqui é que dividem a pescaria.
” Estado Actual das Pescas em Portugal - A.A. Baldaque da Silva, 1891
sábado, 2 de agosto de 2008
Iate de Setúbal
Também designado por "Iate de Setúbal" e "Iate Português". Aparecem 3 grafias: Iate, Hiate e Yate. Adopta-se a primeira por ser actualmente a mais usual.
Deve notar-se que a palavra iate não aparece aqui com o sentido do inglês yatch, "barco de recreio" (regalista, em boa linguagem marítima) mas sim como termo náutico português que designa a embarcação que arma dois mastros da mesma altura, com uma vela de carangueja em cada mastro e uma a duas velas de estai no mastro da vante . O Iate de Setúbal era uma embarcação de madeira, destinada a carga, com as dimensões:
Comprimento fora a fora (comp.total) 15 a 19 metros ,Boca (largura máxima) 4,3 a 5,2 metros ,
Pontal (altura do casco) 1,5 a 1,7 metros
Além dos dois mastros da mesma altura, próprios dos hiates, o de Setúbal apresenta o da vante vertical e o da ré com acentuado caimento para a ré. A enxárcia era constituída por dois óvens, por cada mastro e por borda, rondados por bigotas. O mastro da vante era espiado por um a dois estais, conforme o número de velas de proa.
Os topos dos mastros eram ligados entre si por um cabo, o vergueiro, o que permite identificá-los pelos mastros em algumas fotografias. Alguns tinham os mastros prolongados por varas de combate. As velas de carangueja não tinham retrancas, tinham duas a três ordens de rizes e o pano grande caçava com uma talha que corria num varão (berimbau). Este berimbau era muito característico, em forma de argola prolongada fixada no topo do cadaste.
As velas de carangueja envergavam nos mastros com arcos de castanho e as de proa envergavam nos estais com garrunchos. Como em todas as embarcações de carga do Sado, ao contrário das do Tejo, a redução do pano fazia-se por rizes e as velas grande e traquete ferravam para as caranguejas arreadas para o convés.
O casco caracterizava-se por uma típica proa de beque com pequeno gurupez quase horizontal, popa ogivada, leme por fora, borda falsa, convés corrido com duas grandes escotilhas de carga pela ré de cada mastro para a carga e duas pequenas escotilhas, uma à proa e outra à popa, para os alojamentos da companha. A característica mais notável do casco, comum aos laitaus, é a proa bojuda em contraste com a popa, mais fina, o que sugere um desenho vindo do século XVIII quase sem alterações. A esta proa corresponde uma estrutura interna também característica.
A companha, na navegação fluvial, era constituída por dois homens. Pelo menos nos últimos 50 anos não foram usadas no Tejo embarcações com aparelho ou casco semelhantes aos do iate de Setúbal. No Sado tudo indica terem sido abundantes durante o século XIX. Numa gravura inglesa de 1813 figura um iate muito semelhante aos que chegaram aos nossos dias e figuram vários numa gravura de 1870.
Estatísticas do movimento da barra do Sado entre 1871 e 1876 mostram que quase 50% do movimento era de iates, que pareciam constituir cerca de 2/3 do movimento nacional. Nos registos da capitania do porto de Setúbal pode verificar-se que o iate "Pardal", construído em 1840, só foi abatido em 1950. Há registos de iates construídos em datas anteriores mas desconhecidas.
Entre 1922 e 1926 verifica-se a mudança de registo de alguns deles, do serviço costeiro para o fluvial, o que acabou por, mais tarde, acontecer com todos os restantes. Em 1933 há ainda 10 iates registados no serviço costeiro internacional, se bem que só muito raramente o fizessem. Entre os construtores navais mais idosos (80 anos) não se encontra ninguém que tenha ouvido falar da construção de iates, apenas recordam reparações.
O último iate, o "Estefânia", navegou até cerca de 1970 e hoje já nem se conseguem identificar alguns restos apodrecidos da mais típica embarcação do Sado. O Museu da Marinha possui desenhos dos quais se fez o "modelo" macisso, visto as maquetes existentes serem fantasiosas em relação ao casco.
Texto Do Eng. H. Cabeçadas
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