quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Galeão do Sado - Embarcação de Recreio


Como notou Henrique Cabeçadas, sendo o galeão uma embarcação andeja e bolineira, de linhas finas, com boas entradas e saídas de água, compreende- se a cobiça de alguns estrangeiros para a sua transformação em embarcações de recreio, dando-lhe assim uma nova utilização.
Hoje, a maioria dos galeões encontra -se em águas nacionais em boas mãos, que de forma decidida, se entregam à conservação deste nosso valioso património náutico. Esse exemplo tem sido dado por algumas autarquias, principalmente as do Sado e também a Câmara Municipal de Cascais, actual proprietária do “Estou Para Ver”.
Pelo que se estima é bem pequena a família dos Galeões do sal.

Uma Família de Barcos:

~ Riquitum
~ Amendoeira
~ Estou Para Ver
~ Bom Dia
~ Pego do Altar
~ Nova Alcacer
~ Fundação de Portugal
~ Zé Mário
~ Pinto Luísa
~ Vale de Moura
~ Odemirense
~ Bicha de Alcácer
~ Albarquel
~ Santiago
~ O Abandonado


Apontamentos sobre esta pequena Família
Segundo Pedro Vasconcelos Proprietário do “Novo Alcácer”

Amendoeira
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Câmara de Alcácer
Local de Navegação: Sado

Albarquel
Bandeira: Francesa
Propriedade: Francesa
Local de Navegação: França

Bicha de Alcácer
Bandeira: Francesa
Propriedade: Francesa
Local de Navegação: França

Bom Dia
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Holandesa
Local de Navegação: Algarve

Estou Para Ver
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Câmara de Cascais
Local de Navegação: Cascais

Fundação de Portugal
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Portuguesa
Local de Navegação: Sado

Nova Alcácer
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Portuguesa
Local de Navegação: Tejo

Odemirense
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Alemã
Local de Navegação: Madeira

O Abandonado
Bandeira: Francesa
Propriedade: Francesa
Local de Navegação: França

Pego do Altar
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: João Barbas de Oliveira
Local de Navegação: Sado

Pinto Luísa
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: C. M. Alcárcer do Sal
Local de Navegação: Sado

Riquitum
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: João Barbas de Oliveira L
Local de Navegação: Sado

Santiago
Bandeira: Inglesa
Propriedade: Inglesa
Local de Navegação: Inglaterra

Vale de Moura
Bandeira: Alemã
Propriedade: Alemã
Local de Navegação: França

Zé Mário
Bandeira: Portuguesa
Propriedade: Reserva Nat. Estuário Sado
Local de Navegação: Sado

Comprimento 16,90 m
Boca 4,75 m
Pontal 1,14 m
Ton. bruta arq 19,90 Ton.
Capacidade 35,00 moios (um moio = 850 Kg de sal)

“(…)Construído em 1944 no estaleiro Chaves & Chaves, Lda., em Setúbal, para Possidónio Tavares, foilhe atribuído inicialmente o nome de “Angelina de Jesus” e registado em 1945(…). Em 1963 foi vendido a José Manuel da Cruz passando então a denominar-se “Zé Mário”, designação que mantém quando, em 1971, é vendido à Unisado – União Salineira do Sado, Lda. E, posteriormente, em 1982, à Reserva Natural do Estuário do Sado. Navegou até 1980/81.(…)” “(…) Em 1983 foram iniciados os trabalhos de recuperação pelo construtor naval José Rosa Adanjo, já falecido. O casco necessitou apenas de substituição do forro do convés, braçolas e roda de proa, pelo que não se tratou de uma reconstrução mas tão somente de uma reparação. Pelo contrário, o aparelho (velas, mastro e respectivos cabos) foi feito inteiramente de novo, seguindo-se rigorosamente as indicações dos antigos mestres de Galeões.
“Em 1977, um grupo de jovens do então chamado Centro Juvenil de Setúbal da Liga para a Protecção da Natureza, lança a ideia da recuperação de um Galeão, ideia que veio a ter eco na reserva Natural do Estuário do Sado que mais tarde a concretizou (…).”
“(…)Procedeu-se a um profundo trabalho de recuperação da embarcação nos estaleiros navais de Sarilhos Pequenos, da firma Jaime Ferreira da Costa & Irmão, Lda.(…)
“(…)As velas e restante aparelho foram executados pelos veleiros Brás da Silva e José Silva, os últimos especialistas de velas para embarcações tradicionais.”

Embarcações Tradicinais do Sado Zé Mário - Um Galeão do Sal de Setúbal - Reserva Natural do Estuário do Sado - 2ª Edição


Riquitum e Pêgo do Altar

Recuperados, navegam nas águas do Sado e acolhem, ao longo do ano, sobretudo as escolas, que os procuram no âmbito da educação ambiental.
Contou-nos João Barbas de Oliveira: “Quando era miúdo, anos sessenta, lembro-me bem de os ver, na doca de Setúbal de onde partimos, às dezenas, amarrados de braço dado.
Temos de agradecer a muitos estrangeiros o terem tirado alguns galeões da lama. O “Riquitum” é um bom exemplo: desenterrado e recuperado por um alemão que, por sua vez, o adquiriu de um holandês. Isso foi possível porque a parte estrutural estava toda enterrada, o que o conservou.
” Homem excepcional, com uma dedicação ao barco espantosa, o alemão e a companheira passaram a viver no barco com os seus dois filhos que aí nasceram. Ela fazia casacos de cabedal que vendia e assim sobreviviam e se dedicavam ao barco que, aos poucos, ia sendo salvo e recuperado... sempre que havia dinheiro. Mas, os filhos cresceram e outras necessidades se impuseram...acabaram por vendê-lo.
“Quando o comprámos, em 1980, estava encalhado na Herdade do Pinheiro. Sempre que a maré subia tinha água no salão. Estava num estado muito avançado de degradação. Com recurso ao motor de uma velha carrinha, conseguimos levá-lo para o estaleiro do Manuel Viana, que já não existe, e lá foi recuperado.
E, continuou João Barbas de Oliveira:
-”Vi o “Pêgo do Altar” pela primeira vez já ele tinha saído de Setúbal. Foi em Vila Real de St.º António e pertencia a um inglês.
Entabulei conversa sobre o barco e tive a imediata convicção que poderia ser vendido.
Levaram-no entretanto para as Canárias, e a seguir para Maiorca, onde o fomos ver. Em 1993, um ano depois, comprámos o barco que já estava meio abandonado nas Canárias. O projecto de negócio, um pouco louco, de trazer lagostas vivas de Cabo Verde, fracassou.
Ainda navegava, tinha um motor de 30 cavalos e, numa viagem bastante atribulada, com mau tempo e três pessoas a bordo, trouxemo-lo das Canárias para Lagos.
É difícil manobrá-lo. O pano é muito grande, rizar não é confortável e abate bastante. O “Estou Para Ver” já não, porque tem uma sobrequilha. Este tem apenas uma quilha corrida, 40 cm à popa que morre para os 30 cm à proa. Mas os galeões são, dos barcos tradicionais, os mais bolineiros. Julgamos nós que isso se deve ao facto do Sado correr de Sul para Norte. Foram concebidos para bolinar. Não fora assim e cada transporte de sal demoraria uma eternidade. Este barco já levou uma obra grande. Tivemos que lhe colocar uma quilha e uma sobrequilha novas. Quanto a custos, uma loucura.”
“Quanto à recuperação deste e doutros barcos tradicionais devo mencionar que ela se deve ao excepcional empenho e devoção de homens como o Eng.º Henrique Cabeçadas”.


O Amendoeira

Construído em Setúbal em 1925 tem as seguintes características:
Classe: 3587SE;
Tipo: 5
Zona de navegação: águas abrigadas;
Comprimento: 18,84
Boca: 5,38 m
Pontal: 1,40m
Tonelagem: 31,85
Lotação: 50 pessoas
Material: Casco de madeira
Cor: predomina o preto

Construído em Setúbal, na Praia da Saúde, pelo Sr. Artur dos Santos, o seu primeiro proprietário foi a firma “ Manuel Francisco Afonso Herdeiros, Lda” e o barco operava como embarcação de tráfego local.
Foi adquirido pela “Unisado – União Salineira do Sado, Ldª” em 1972, tendo sido vendido em Julho de 1984 ao belga Sr. Henri Frank Van Uffelen Elisabeth, e sujeito a obras de reconversão, de acordo com os objectivos do seu proprietário.
Em 1995, o “Amendoeira” foi sujeito a trabalhos de retirada de alguns elementos descaracterizadores e de pintura.
Desenvolveu-se a ideia de se estabelecer um protocolo de utilização da embarcação entre o seu proprietário e a Câmara Municipal de Alcácer do Sal e, em 1997, é celebrado contrato de comodato, que autoriza a autarquia a utilizar o galeão como embarcação de recreio, obrigando-se a proceder a reparações, alterações e benfeitorias no mesmo.
Em 2004, a Câmara Municipal de Alcácer do Sal procede à aquisição da embarcação.
Está a ser recuperado. E em breve, vêlo-emos, de novo, a navegar.


Pinto Luísa

Construído em Setúbal em 1946, tem as seguintes características:
Classe: 22008SE
Tipo: C 1
Zona de navegação: costeira
Comprimento: 19,30m
Boca: 5,77m
Pontal: 1,75m
Tonelagem: 43,08
Lotação: 25 pessoas
Casco de madeira de cor predominantemente branca.

O nome deste galeão teve origem no primeiro proprietário de nome “Pinto”, que tinha uma filha de nome “Luísa”.
Foi adquirido pelo Sr. Carlos Bicha, de Alcácer do Sal, em 1947, com a finalidade de transportar vários produtos da região, nomeadamente o sal.
Em 1985, Venâncio Bicha, neto do anterior proprietário, converte o galeão em embarcação de lazer, registando-o como barco de recreio.
Em 2003, a Câmara Municipal de Alcácer do Sal adquire o “Pinto Luísa”.


Nova Alcácer

(…) foi construído pelo mestre Carlos Ministro, em Alcácer do Sal.
Comprado em 1979 a Venâncio Bicha por Albert Joseph Coumans, o holandês mais conhecido por Bertus, na Zona do Gaio do Rosário.
Primeiro foi recuperado nos estaleiros Viana e, mais tarde, veio para o rio Tejo para os estaleiros Lopes. Durante mais de vinte anos prestou bons serviços de lazer…
É hoje propriedade do escritor Pedro Vasconcelos

Excerto do texto Projecto Mar

1 comentário:

alentejano disse...

É interessante referir que o Galeão Ze Mario deve-se ao facto na sociedade que comprou o barco em 1963 estar o Mourinho Felix (pai) que sugeriu para nome do barco o nome de seu filho nascido nesse ano: Jose Mario Mourinho Felix - Ze Mario - cuincidência hem ou tal estrelinha que nasce com ele?