sábado, 2 de agosto de 2008

Iate de Setúbal



Também designado por "Iate de Setúbal" e "Iate Português". Aparecem 3 grafias: Iate, Hiate e Yate. Adopta-se a primeira por ser actualmente a mais usual.
Deve notar-se que a palavra iate não aparece aqui com o sentido do inglês yatch, "barco de recreio" (regalista, em boa linguagem marítima) mas sim como termo náutico português que designa a embarcação que arma dois mastros da mesma altura, com uma vela de carangueja em cada mastro e uma a duas velas de estai no mastro da vante . O Iate de Setúbal era uma embarcação de madeira, destinada a carga, com as dimensões:

Comprimento fora a fora (comp.total) 15 a 19 metros ,Boca (largura máxima) 4,3 a 5,2 metros ,
Pontal (altura do casco) 1,5 a 1,7 metros

Além dos dois mastros da mesma altura, próprios dos hiates, o de Setúbal apresenta o da vante vertical e o da ré com acentuado caimento para a ré. A enxárcia era constituída por dois óvens, por cada mastro e por borda, rondados por bigotas. O mastro da vante era espiado por um a dois estais, conforme o número de velas de proa.
Os topos dos mastros eram ligados entre si por um cabo, o vergueiro, o que permite identificá-los pelos mastros em algumas fotografias. Alguns tinham os mastros prolongados por varas de combate. As velas de carangueja não tinham retrancas, tinham duas a três ordens de rizes e o pano grande caçava com uma talha que corria num varão (berimbau). Este berimbau era muito característico, em forma de argola prolongada fixada no topo do cadaste.
As velas de carangueja envergavam nos mastros com arcos de castanho e as de proa envergavam nos estais com garrunchos. Como em todas as embarcações de carga do Sado, ao contrário das do Tejo, a redução do pano fazia-se por rizes e as velas grande e traquete ferravam para as caranguejas arreadas para o convés.
O casco caracterizava-se por uma típica proa de beque com pequeno gurupez quase horizontal, popa ogivada, leme por fora, borda falsa, convés corrido com duas grandes escotilhas de carga pela ré de cada mastro para a carga e duas pequenas escotilhas, uma à proa e outra à popa, para os alojamentos da companha. A característica mais notável do casco, comum aos laitaus, é a proa bojuda em contraste com a popa, mais fina, o que sugere um desenho vindo do século XVIII quase sem alterações. A esta proa corresponde uma estrutura interna também característica.
A companha, na navegação fluvial, era constituída por dois homens. Pelo menos nos últimos 50 anos não foram usadas no Tejo embarcações com aparelho ou casco semelhantes aos do iate de Setúbal. No Sado tudo indica terem sido abundantes durante o século XIX. Numa gravura inglesa de 1813 figura um iate muito semelhante aos que chegaram aos nossos dias e figuram vários numa gravura de 1870.
Estatísticas do movimento da barra do Sado entre 1871 e 1876 mostram que quase 50% do movimento era de iates, que pareciam constituir cerca de 2/3 do movimento nacional. Nos registos da capitania do porto de Setúbal pode verificar-se que o iate "Pardal", construído em 1840, só foi abatido em 1950. Há registos de iates construídos em datas anteriores mas desconhecidas.
Entre 1922 e 1926 verifica-se a mudança de registo de alguns deles, do serviço costeiro para o fluvial, o que acabou por, mais tarde, acontecer com todos os restantes. Em 1933 há ainda 10 iates registados no serviço costeiro internacional, se bem que só muito raramente o fizessem. Entre os construtores navais mais idosos (80 anos) não se encontra ninguém que tenha ouvido falar da construção de iates, apenas recordam reparações.
O último iate, o "Estefânia", navegou até cerca de 1970 e hoje já nem se conseguem identificar alguns restos apodrecidos da mais típica embarcação do Sado. O Museu da Marinha possui desenhos dos quais se fez o "modelo" macisso, visto as maquetes existentes serem fantasiosas em relação ao casco.
Texto Do Eng. H. Cabeçadas

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