O Galeão “Reconverte-se” ao Sal
“Cerca de 1920, aparece em Setúbal o galeão a vapor na arte do cerco americano e os anteriores galeões, a remos e vela, são convertidos para carga, sobretudo fluvial, depois de modificado o convés e a armação. O casco não sofreu alteração e, com a sua forma alongada de entradas e saídas de águas finas, deu embarcações andejas e bolineiras muito diferentes dos iates e laitaus.
A armação foi modificada passando a área da enorme vela bastarda a ser repartida por uma vela carangueja e um estai, desaparecendo a pesada e longa verga do bastardo. Tornou-se, assim, possível reduzir a tripulação a dois homens ou, no limite, a um casal. Ficou com a armação de cuter, com um mastro vertical, sem gurupez, amurando a vela de estai na roda de proa. A vela grande tem duas ou três ordens de rizes e ferra para a carangueja arreada no convés. O casco era de popa ogivada com leme por fora e a proa quase vertical. O convés era corrido, com duas grandes escotilhas para a carga pela ré do mastro, uma mais pequena para vante do mastro, e dois albois, um para o rancho da proa e outro para a câmara da popa.
“Os primeiros galeões de carga resultaram, assim, da reconversão dos galeões da pesca, inicialmente os mais pequenos, menos rentáveis na pesca. Posteriormente e até 1954, construíram-se muitos galeões de casco semelhante aos primitivos, mas maiores.”
Comprimento fora a fora (comp. total) 13 a 18 metros
Boca (largura máxima) 3,7 a 4,3 metros
Pontal (altura do casco) 0,9 a 1,2 metros
Excerto do texto de Henrique Cabeçadas “Embarcações Tradicionais Sado”
A Rota do Sal
Mestre Ricardo Afonso Santiago conta hoje 70 anos de idade e andou no sal, a bordo do “Estou para Ver”.
Contou-nos que, durante toda a década de 60, a actividade dos galeões no transporte do sal era ainda necessária e rentável. Dela dependia o abastecimento directo, em pleno rio, dos navios da nossa frota bacalhoeira. Cada Galeão podia transportar entre 50 a 70 toneladas. Lembra-se de dias em que o abastecimento à frota do bacalhau chegou a atingir cerca de 50 mil toneladas de sal.
Rio Acima…
Sado acima até Alcácer, carregar os galeões de sal e fazê-los regressar a Setúbal, foi actividade que animou o rio até ao fim dos anos sessenta.
O rio não é fácil. É necessário conhecê-lo bem para não comprometer a viagem. Evitar, por exemplo, o “rabo de peixe”, local tão baixo que não permite a passagem. Três horas para lá, mais uma para carregar e outras três para o regresso era o tempo que em média se gastava, aproveitando marés e com o vento de feição. Com vento Norte, o regresso à vela era bem difícil já que, em alguns troços, o rio corre para Norte e Noroeste. Outras tantas dificuldades se levantavam quando havia quebras de vento. Quando tal acontecia, uma barquinha à proa e outra à popa, movidas a remos, puxavam o galeão rio abaixo ou rio acima.
Cada galeão transportava entre 50 a 70 toneladas de sal. Através de duas grandes aberturas na coberta, os carregadores iam despejando os 25 quilos que transportavam em cada canasta até o encher. Carregadores contratados à jorna, em competição e regata permanente para serem os primeiros a chegar e a carregar, pois dessa pressa dependia a retribuição. Trabalhadores que não faziam parte da tripulação pois o galeão do sal bastava-se com duas pessoas a governá-lo, tarefa frequentemente desempenhada por casais. E assim foi até a estrada substituir definitivamente o rio.
Sado acima até Alcácer, carregar os galeões de sal e fazê-los regressar a Setúbal, foi actividade que animou o rio até ao fim dos anos sessenta.
O rio não é fácil. É necessário conhecê-lo bem para não comprometer a viagem. Evitar, por exemplo, o “rabo de peixe”, local tão baixo que não permite a passagem. Três horas para lá, mais uma para carregar e outras três para o regresso era o tempo que em média se gastava, aproveitando marés e com o vento de feição. Com vento Norte, o regresso à vela era bem difícil já que, em alguns troços, o rio corre para Norte e Noroeste. Outras tantas dificuldades se levantavam quando havia quebras de vento. Quando tal acontecia, uma barquinha à proa e outra à popa, movidas a remos, puxavam o galeão rio abaixo ou rio acima.
Cada galeão transportava entre 50 a 70 toneladas de sal. Através de duas grandes aberturas na coberta, os carregadores iam despejando os 25 quilos que transportavam em cada canasta até o encher. Carregadores contratados à jorna, em competição e regata permanente para serem os primeiros a chegar e a carregar, pois dessa pressa dependia a retribuição. Trabalhadores que não faziam parte da tripulação pois o galeão do sal bastava-se com duas pessoas a governá-lo, tarefa frequentemente desempenhada por casais. E assim foi até a estrada substituir definitivamente o rio.
Texto de Carlos S. Costa
2 comentários:
Boa noite, acabo de descobrir o seu blogue..num blogue brasileiro! Realmente o mundo está mais pequeno. Reparei que o "Navegar é preciso" tem aqui um link, se me dá licensa, irei linkar o "Mareantes". E já agora,se não for pedir muito, não deixe de ir acompanhando a construção do "Fife".Bons ventos
Marco Marques
Boa tarde ! A fim de tirar uma teima, gostaria que me informássem qual o cumprimento do mastro dos galeões do Sado ! Antecipadamente agradecida.
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